De camelô a empresário milionário: David transformou R$12 em R$120 mil
Fabíola Ortiz
No Rio de Janeiro
Transformar R$12 em R$120 mil. Foi assim que o vendedor de balas no Rio de Janeiro, David Portes, 54, passou de camelô a um empresário milionário. Criatividade, ambição e ousadia são as dicas que David dá para fazer sucesso. Não tem receita pronta, garante, mas é preciso ter muita persistência e trabalho duro se reinventando a cada dia.
Nascido em Campos, no Norte fluminense, David estudou só até a 7ª série. A escola era longe e a família toda trabalhava na roça numa fazenda de cana de açúcar. Há 25 anos, David, recém-casado, resolveu dar uma reviravolta na sua vida. Como ele próprio define: “Vim morar na cidade do Rio em busca de um sonho. Meu sonho era a felicidade, ter uma família, uma casa e dignidade”.
Vivendo num barraco na favela da Rocinha, David trabalhou por pouco tempo na Polygram, a fábrica de discos de vinis. Após a falência da empresa, David viu-se desempregado e despejado de seu barraco com sua esposa grávida. Era uma noite fria de julho de 1986 quando o casal parou na esquina das avenidas Presidente Wilson e Presidente Antônio Carlos, em pleno coração central do Rio.
A mudança na história de David começa quando sua esposa aos sete meses de gravidez precisou ser medicada. O remédio custava na época alguns cruzados, o que hoje seria o equivalente a R$12. Sem ter dinheiro para comprar o medicamento, um porteiro de um edifício comercial no centro se sensibilizou e fez o empréstimo.
O pulo do gato ocorreu quando, “ao invés de comprar remédio fui comprar doces na Central do Brasil para vendê-los depois”. Com os R$12, comprou meia dúzia de paçocas e mariolas e rapidinho dobrou o dinheiro. “Comprei o remédio e voltei para o depósito para comprar mais doces e, assim, fui dobrando o dinheiro e com mais variedades. Quanto mais produto eu tinha, mais a venda aumentava”.
De Street marketing à delivery
Após um ano na nova atividade, David descobriu que precisa investir no marketing de rua, o “street marketing”, definiu. “Naquela época só os shoppings faziam marketing promocional. Com as bancas de bala concorrentes, vi a necessidade de fazer algo diferente, fugir inteiramente do igual”.
Resolveu, então, fazer uma coisa criativa: o tele entrega. “Fui eu quem introduziu o ‘delivery’. Há 24 anos eu já fazia delivery e recebia os pedidos em três orelhões. Criei o ‘call center’ anexo à Banca do David. Fazia promoções... ‘quanto mais ligar, mais chance você tem de ganhar’, ressaltou.
Banca do David virtual
Localizada no mesmo ponto aonde o casal se abrigou há 25 anos, numa das esquinas mais movimentadas do centro do Rio, a Banca do David hoje faz sucesso. Com tapete vermelho no chão, coleta seletiva, 360 itens entre doces, biscoitos, chocolates e ainda uma linha de produtos diets e lights, o faturamente diário é entre R$1.000 e R$1.500. Já tendo transformado a banquinha num point e com a vida cheia, David depende da ajuda de mais três funcionários na banca, o Paulão, o Mário e o Carlos, dois deles seus irmãos.
No início da década de 90, o camelô inventou o serviço de ‘drive thru’, o motorista para o carro e pega os doces sem sair do volante. E para quem não acredita, o camelô passou a ficar antenado com a modernidade. Com o início da internet, a Banca do David foi para o mundo virtual, o camelô passou a receber pedidos também pela internet e, assim, criou o ‘e-commerce’, o comércio eletrônico de doces.
Com a ajuda de um amigo que trabalhava num prédio comercial, ele criou um e-mail. “A gente mandava o catálogo com todos os produtos e as pessoas pediam. Eu não tinha acesso ao e-mail, mas meu amigo tinha. Eu recebia os pedidos pela internet via cordinha. Ele amarrava o pedido numa cordinha e descia pela janela do edifício”.
Ainda hoje é possível fazer pedidos pela internet através da loja virtual, mas só para longas distâncias, se não o jeito mais prático mesmo é o tele entrega. No auge da inserção no mundo eletrônico, David já teve até laptop na banca com ponto de internet wi-fi, mas aboliu a ideia depois ter sido roubado.
Driblar a concorrência
Para driblar a concorrência, David realiza todo mês promoções. Fez uma pesquisa com as suas ‘davidzetes’(assim como as chacretes), David contrata duas modelos para saber a preferência dos consumidores.
“A gente faz tudo diferente para chamar atenção. O marketing é isso, você só é notado quando é visto. Percebi que as vendas caíram e a pesquisa indicou que comer doces dá cárie, então fiz uma parceria com um consultório dentário para fazer limpeza. As pessoas se cadastravam e ganhavam uma limpeza com flúor e tártaro: ‘a banca do David manda limpar’, esse era o slogan”.
Os slogans são os mais criativos. David chegou a fazer parcerias com companhias aéreas para sortear passagens de avião para Miami, em 1998, e o slogan era: “tenha uma doçura viagem, coma mais doce e voe United”. Já fez também promoção para um fim de semana na Região Serrana: “David não é Maomé, mas leva você até a montanha”.
Palestrante milionário
O sucesso foi tão grande que há 10 anos David foi descoberto por José Carlos Teixeira, presidente do Instituto de Marketing Industrial (IMI), com sede em São Paulo, que o convidou para dar uma palestra no Hotel Sheraton para 180 empresários na capital paulista.
Hoje, David é convidado para dar palestras e seminários em todo o Brasil e no exterior. Mesmo sem ter diploma de nível superior ou até mesmo sem terminar o ensino médio, David é convidado para falar a profissionais de vendas e executivos de grandes empresas como Petrobras, Shell, companhias de telefonia, além de Samsung, Motorola e redes de supermercado.
“Já tem 10 anos que comecei a fazer palestras, foram 978 palestras. E a palestra vai mudando, a gente vai botando novos conteúdos. A história não muda, mas a gente coloca alguns temperos”, conta David que já viajou para os Estados Unidos, China e Europa. No Brasil já foi a muitas as cidades, do Acre até o Rio Grande do Sul.
Ele cobra R$12 mil para dar palestras de cerca de uma hora e meia de duração, já no exterior o preço varia entre 8 a 10 mil dólares. “Não falo nada de inglês, só português. O que encanta os executivos é a simplicidade, o que grandes pensadores de marketing estudam, eu digo por intuição”, admite.
Consultor de marketing
O camelô agora consultor de marketing requisitado já tem até um livro publicado, no final de 2008, que está na sua quarta tendo vendido 30 mil exemplares: “David, Uma Lição de Vidae deMarketing” (Ed Futura).
E qual é a chave do sucesso? A atitude, garante. “Ter uma ideia e botá-la em prática. Eu digo sempre, nunca tenha medo de cometer erros, pois o pior erro é o medo não tentar. A vida só é dura para quem é mole. Tem que ser muito proativo. Atitude é tudo. Tem que ter perseverança, lutar pelo sonho e correr na frente. Quem corre na frente bebe água limpa, quem fica atrás só pega água suja. A concorrência é boa, dá inspiração. A dica é reinventar”, defendeu o camelô milionário.
Hoje ele mora com a esposa, Maria de Fátima Monsores Portes, 49, no bairro Flamengo, na zona sul do Rio. Ela também ajuda nos negócios do marido. O filho de 25 anos, Thiago Monsores Portes, formou-se em Publicidade e hoje dirige junto com o pai a agência DMarketing que atende cinco contas de marketing e publicidade e emprega 30 jovens profissionais da área.
“Todo mundo aqui é acadêmico, eu só dou uns pitacos. Agora estou querendo voltar a estudar, terminar o segundo grau e estudar marketing. Já estive em várias universidades dando palestras. Uma vez por mês eu separo uma data para falar para os alunos”, disse
Nascido em Campos, no Norte fluminense, David estudou só até a 7ª série. A escola era longe e a família toda trabalhava na roça numa fazenda de cana de açúcar. Há 25 anos, David, recém-casado, resolveu dar uma reviravolta na sua vida. Como ele próprio define: “Vim morar na cidade do Rio em busca de um sonho. Meu sonho era a felicidade, ter uma família, uma casa e dignidade”.
De camelô a empresário milionário
Foto 5 de 12 - Durante a atividade de camelô, David implantou diversas estratégias para atrair e fidelizar seus clientes. Entre elas, o serviço de pedidos por telefone. No início, eram cerca de 20 pedidos diários, hoje o 'call center' ainda continua e já recebe mais de 50 encomendas de balas, doces e biscoitos. Marco Antônio Teixeira/UOL
Vivendo num barraco na favela da Rocinha, David trabalhou por pouco tempo na Polygram, a fábrica de discos de vinis. Após a falência da empresa, David viu-se desempregado e despejado de seu barraco com sua esposa grávida. Era uma noite fria de julho de 1986 quando o casal parou na esquina das avenidas Presidente Wilson e Presidente Antônio Carlos, em pleno coração central do Rio.
Fazia frio, a gente tinha um cobertorzinho e dormia com um papelão. Eu não gostava de pedir nada a ninguém, então catava latinha para poder comprar um prato de comida e dividir com a minha esposa
O pulo do gato ocorreu quando, “ao invés de comprar remédio fui comprar doces na Central do Brasil para vendê-los depois”. Com os R$12, comprou meia dúzia de paçocas e mariolas e rapidinho dobrou o dinheiro. “Comprei o remédio e voltei para o depósito para comprar mais doces e, assim, fui dobrando o dinheiro e com mais variedades. Quanto mais produto eu tinha, mais a venda aumentava”.
De Street marketing à delivery
Após um ano na nova atividade, David descobriu que precisa investir no marketing de rua, o “street marketing”, definiu. “Naquela época só os shoppings faziam marketing promocional. Com as bancas de bala concorrentes, vi a necessidade de fazer algo diferente, fugir inteiramente do igual”.
Resolveu, então, fazer uma coisa criativa: o tele entrega. “Fui eu quem introduziu o ‘delivery’. Há 24 anos eu já fazia delivery e recebia os pedidos em três orelhões. Criei o ‘call center’ anexo à Banca do David. Fazia promoções... ‘quanto mais ligar, mais chance você tem de ganhar’, ressaltou.
Banca do David virtual
Localizada no mesmo ponto aonde o casal se abrigou há 25 anos, numa das esquinas mais movimentadas do centro do Rio, a Banca do David hoje faz sucesso. Com tapete vermelho no chão, coleta seletiva, 360 itens entre doces, biscoitos, chocolates e ainda uma linha de produtos diets e lights, o faturamente diário é entre R$1.000 e R$1.500. Já tendo transformado a banquinha num point e com a vida cheia, David depende da ajuda de mais três funcionários na banca, o Paulão, o Mário e o Carlos, dois deles seus irmãos.
No início da década de 90, o camelô inventou o serviço de ‘drive thru’, o motorista para o carro e pega os doces sem sair do volante. E para quem não acredita, o camelô passou a ficar antenado com a modernidade. Com o início da internet, a Banca do David foi para o mundo virtual, o camelô passou a receber pedidos também pela internet e, assim, criou o ‘e-commerce’, o comércio eletrônico de doces.
Com a ajuda de um amigo que trabalhava num prédio comercial, ele criou um e-mail. “A gente mandava o catálogo com todos os produtos e as pessoas pediam. Eu não tinha acesso ao e-mail, mas meu amigo tinha. Eu recebia os pedidos pela internet via cordinha. Ele amarrava o pedido numa cordinha e descia pela janela do edifício”.
Ainda hoje é possível fazer pedidos pela internet através da loja virtual, mas só para longas distâncias, se não o jeito mais prático mesmo é o tele entrega. No auge da inserção no mundo eletrônico, David já teve até laptop na banca com ponto de internet wi-fi, mas aboliu a ideia depois ter sido roubado.
Driblar a concorrência
Para driblar a concorrência, David realiza todo mês promoções. Fez uma pesquisa com as suas ‘davidzetes’(assim como as chacretes), David contrata duas modelos para saber a preferência dos consumidores.
“A gente faz tudo diferente para chamar atenção. O marketing é isso, você só é notado quando é visto. Percebi que as vendas caíram e a pesquisa indicou que comer doces dá cárie, então fiz uma parceria com um consultório dentário para fazer limpeza. As pessoas se cadastravam e ganhavam uma limpeza com flúor e tártaro: ‘a banca do David manda limpar’, esse era o slogan”.
Os slogans são os mais criativos. David chegou a fazer parcerias com companhias aéreas para sortear passagens de avião para Miami, em 1998, e o slogan era: “tenha uma doçura viagem, coma mais doce e voe United”. Já fez também promoção para um fim de semana na Região Serrana: “David não é Maomé, mas leva você até a montanha”.
Palestrante milionário
O sucesso foi tão grande que há 10 anos David foi descoberto por José Carlos Teixeira, presidente do Instituto de Marketing Industrial (IMI), com sede em São Paulo, que o convidou para dar uma palestra no Hotel Sheraton para 180 empresários na capital paulista.
Hoje, David é convidado para dar palestras e seminários em todo o Brasil e no exterior. Mesmo sem ter diploma de nível superior ou até mesmo sem terminar o ensino médio, David é convidado para falar a profissionais de vendas e executivos de grandes empresas como Petrobras, Shell, companhias de telefonia, além de Samsung, Motorola e redes de supermercado.
“Já tem 10 anos que comecei a fazer palestras, foram 978 palestras. E a palestra vai mudando, a gente vai botando novos conteúdos. A história não muda, mas a gente coloca alguns temperos”, conta David que já viajou para os Estados Unidos, China e Europa. No Brasil já foi a muitas as cidades, do Acre até o Rio Grande do Sul.
Ele cobra R$12 mil para dar palestras de cerca de uma hora e meia de duração, já no exterior o preço varia entre 8 a 10 mil dólares. “Não falo nada de inglês, só português. O que encanta os executivos é a simplicidade, o que grandes pensadores de marketing estudam, eu digo por intuição”, admite.
Consultor de marketing
O camelô agora consultor de marketing requisitado já tem até um livro publicado, no final de 2008, que está na sua quarta tendo vendido 30 mil exemplares: “David, Uma Lição de Vidae deMarketing” (Ed Futura).
E qual é a chave do sucesso? A atitude, garante. “Ter uma ideia e botá-la em prática. Eu digo sempre, nunca tenha medo de cometer erros, pois o pior erro é o medo não tentar. A vida só é dura para quem é mole. Tem que ser muito proativo. Atitude é tudo. Tem que ter perseverança, lutar pelo sonho e correr na frente. Quem corre na frente bebe água limpa, quem fica atrás só pega água suja. A concorrência é boa, dá inspiração. A dica é reinventar”, defendeu o camelô milionário.
Hoje ele mora com a esposa, Maria de Fátima Monsores Portes, 49, no bairro Flamengo, na zona sul do Rio. Ela também ajuda nos negócios do marido. O filho de 25 anos, Thiago Monsores Portes, formou-se em Publicidade e hoje dirige junto com o pai a agência DMarketing que atende cinco contas de marketing e publicidade e emprega 30 jovens profissionais da área.
“Todo mundo aqui é acadêmico, eu só dou uns pitacos. Agora estou querendo voltar a estudar, terminar o segundo grau e estudar marketing. Já estive em várias universidades dando palestras. Uma vez por mês eu separo uma data para falar para os alunos”, disse
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